Texto de introducción en el marco de la inauguración de la exposición: Arte y Problemas de Salud Mental
Curador: Dr. Álvaro Lobato de Faria – Director Coordenador do MAC – Movimento Arte Contemporânea
Num universo povoado e multiplicado por um sem número de sensibilidades e razões, resultantes estas de vários sistemas de estrutura gregária é-nos dada a consciência da existência de uma actividade humana a que chamamos ARTE.
Como diz Dino Fromaggio: “Arte é tudo aquilo que os homens dizem que é arte” podemos então assim admitir que qualquer forma de expressão plástica é Arte, independentemente da sua categorização ou do seu patamar de explicitação ou catarse.
No entanto, toda a expressão plástica tem por detrás de si uma forte necessidade de comunicação. É uma linguagem” permissiva” que abarca toda a possibilidade de comunicação, mesmo de diálogo interior.
Ainda que esse mesmo não seja intencional e consciente de mim para o “outro” ou para “eu” próprio.
A abrangência da arte é global e presta-se a várias definições e aquisições para o seu “campo”, havendo uma confusão de conceitos através dos tempos, a partir dos quais os académicos e estudiosos tentam estruturar e circunscrever aos objectos em acto que podem e devem figurar no campo da Arte.
Actualmente, configuramos no campo artístico as pinturas pré-históricas das quais muitos significados ainda desconhecemos. Porém, essas “obras” contêm já os elementos plásticos que serviram a Kandinsky para a sua teoria e defesa da Arte Abstrata.
A diferença temporal e os vários patamares civilizacionais que decorreram entre a sua execução é de séculos e só no séc XV e, por razões teóricas, se incluem esses “ grafitis” no território da arte.
A Arte é expressão interior e objectivação no mundo exterior
A realidade, sabemos, não é como a percepcionamos, por isso mesmo é necessária uma aprendizagem que nos leve a mover-nos no mundo real, no autêntico que, muitas vezes, nos escapa e confunde.
O individuo que se sente legado para “círculos” que o marginalizam e estigmatizam por uma ou outra razão considerada patológica tende a iludir-se no seu “refúgio” criando à sua volta uma barreira que impede a coparticipação e contacto com os seres que constituem as estruturas das sociedades na sua complexidade.
Assim, no subentendimento da expressão plástica podemos tomá-la também como uma terapia generalizada na comunicação do “eu” para com o mundo, comunicação essa que por vezes se torna impossível por razões temporais, interculturais ou de outra ordem.
Para tomar um ou dois exemplos já consagrados na história mundial da arte, podemos citar um Baselitz ou um Pollock.
No primeiro caso, Bazelitz opta por inverter formalmente o que lhe é representado como real, como se a ordem das forças físicas que nos mantem se invertessem e o mundo vivesse ao contrário de si próprio.
Poder-se-ia apostar aqui num tipo de análise que não cabe no nosso campo, tal como acontece com Pollock em cuja obra impera o caos que não sabemos se dominava na sua atmosfera psíquica ou se o autor quereria comunicar ao mundo um ”retrato de época”.
Falando também de intervenções que podem ser consideradas como artísticas e de integração consideraremos a arte infantil. No campo da arte infantil encontramos várias criações de “novos mundos” para a criança, de forma a auto inserir-se no mundo que a rodeia, mas à sua maneira. Por uma forma que a pouco e pouco, ela possa compreender o mundo que a rodeia, apresentando-o de início como quer (de uma forma simbólica) e impondo ou opondo, desde logo, o seu “posicionamento” individual ao seu autêntico habitat social.
De qualquer forma a terapia pela expressão plástica é extensível aos considerados artistas consagrados. A obra constitui um acto catártico em que o autor se revê como se o mundo fosse, não como é , mas como ele quereria que fosse. É a aproximação a uma outra realidade, a uma necessidade de vivenciar um outro mundo feito à sua imagem interior.
A inserção social da obra contribui para a subjectividade do seu autor.
É na expressão do seu interior que o autor se propõe mostrar ao mundo tal como é, na sua fragilidade e potência, num modo terapêutico de autoconhecimento e realização de identidade.
Essa expressivadade do sujeito pode ser vista não só como uma defecação mental mas também como um potencial acesso ao outro, ou seja, ao aparecerem no âmbito de uma exposição – acto social – estas obras serão vistas por outros, o que acentua a subjectividade do autor por meio de um entrelaçamento intersubjectivo com aquele que contempla a sua obra.
O autor, e em particular nestes casos, é assim retirado da sua quase absoluta solidão e integrado mesmo que parcialmente, num circuito social.
As iniciativas deste género são assim, verdadeiros contributos para combater um dos maiores flagelos dos nossos tempos: a solidão humana.